Semente

Semente

E dizia: O Reino de Deus é assim como se um homem lançasse semente à terra (Mc 4:26)

A semente é um símbolo bastante explorado em representações as mais variadas, e a superior pedagogia de Jesus também explorou essa pequena usina. Como nas parábolas, em que Jesus articulava uma forma, que nos convidava ao exercício interpretativo, desenvolvendo assim nossa asa do conhecimento, a um conteúdo edificante, em que desenvolvia nossa asa do amor.

Entre outras coisas, as parábolas são como cápsulas protetoras das lições do Cristo através dos tempos. Cápsulas que, pela condensação desses ensinamentos, os mantêm incólumes, inteiros, intactos, mas… que não os isolam dos “olhos que veem e dos ouvidos que ouvem.”

Essas lições vêm crescendo ao longo dos séculos, expandindo o seu recado e enriquecendo o homem, à medida em que o nosso desenvolvimento nos permite penetrar o seu âmago, o seu cerne, o seu centro.  O que temos feito ainda melhor, desde o século XIX, com a chave interpretativa que a Doutrina Espírita nos fornece.

No século XX, como reforço, nos vieram as centenas de obras psicografadas por Chico Xavier, que ilustram o Evangelho e os ensinamentos da Codificação, trazendo-os para ainda mais perto de nós. Podemos destacar aquelas em que o Cristo é o personagem, como “Jesus no Lar” (Neio Lúcio) e “Boa Nova” (Humberto de Campos), e as da série “Nosso Lar” (André Luiz), em que os personagens vivem o Evangelho.

Há sementes de germinação rápida, e sementes de germinação lenta, mas todas dão fruto em seu devido tempo, também conforme a terra em que lançadas. Por isso, no Capítulo 24 de “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, Kardec nos diz:

“Hoje, o Espiritismo projeta luz sobre uma porção de pontos obscuros. Entretanto, não a lança inconsideradamente. Em suas instruções, os Espíritos procedem com admirável prudência. Só abordam as diversas partes já conhecidas da Doutrina de modo gradual e sucessivo, deixando as outras partes para serem reveladas à medida que se tornam oportuno fazer-las sair da obscuridade.”  (OESE, Cap. 24, it. 7)

Há um determinismo nas leis biológicas que faz com que, uma vez lançada, observadas certas condições, a semente germine. O mesmo ocorre com a semente da Lei de Deus, consubstanciada no Evangelho de Jesus, quando lançado ao solo do nosso coração. Por isso, devemos cuidar, tornando-o solo propício, que a receba e albergue, garantindo que cresça e frutifique.

Cabe-nos, portanto, uma reflexão sobre como é que nós, estudantes do Evangelho de Jesus, o estamos adotando como roteiro de conduta para nossas vidas. Estamos? À medida que crescemos em compreensão a nossa melhoria moral se verifica? Praticamos esse conteúdo?

Jesus sabia que espiga daria fruto maduro e que espiga ressecaria, mas em hipótese alguma esperava um resultado “per-saltum” , ou seja, repentino, com queima de etapas. Isso vale de uma ótica individual, ou seja, para a adesão de cada um aos princípios do Cristo, e também de uma ótica universalista, com o crescimento do contingente de cristãos sinceros no mundo, regenerando-o um pouco.

Temos a terra do nosso coração, a semente do Evangelho, e a Lei de Deus escrita em nossas consciências, conforme o ensinamento da Questão 621 de “O Livro dos Espíritos” . Cabe-nos melhorar as condições da terra, trabalhando-a. Receber nela a semente do Evangelho, abrigando-a e nutrindo-a, para que cresça. E afinar os ouvidos para a voz da consciência.

Expressa simplesmente, a semente é um grão que se lança à terra para germinar. Essa é sua função: disparar o processo de crescimento a partir de suas potencialidades, de sua latência. E a pergunta mais elementar é: crescimento de quê? E respondemos com outra pergunta: o que queremos que cresça?

Venha a nós o seu Reino

Por Gabriel Maia