Quando pela primeira vez tive contato com a Doutrina Espírita, há cerca de 18 anos, meu desconhecimento era tão completo, que me assustei com a figura de Jesus pintada na parede do centro que me acolhia. Desencantado das experiências religiosas anteriores, pensei: “Até aqui?” Era a ingenuidade de atribuir ao Cristo o mau uso de sua imagem, infelizmente tão recorrente na História. Minha relação com a Doutrina Espírita limitava-se, então, a uma irresistível simpatia pela doce figura de Chico Xavier.
Daquela vez, atormentado por dores e disposto a ir a qualquer parte no desejo de curá-las, meu contato foi muito breve, e pouco aprendi. Hoje, após cerca de dez anos ininterruptos de frequência e estudo, lembro com candura a ignorância de então. A Doutrina Espírita não apenas reconhece o Cristo, ela o serve. Ela é o consolador prometido por Jesus para o nosso esclarecimento, depois de preparados por mais de dois mil anos de desenvolvimento, para um entendimento mais profundo do seu Evangelho de amor. E, de fato, para mim e outros tantos, tudo começou pela consolação.
Agora compreendo que Jesus é um Espírito puro, cuja evolução, no dizer de Emmanuel, fez-se em linha reta para Deus, e cuja trajetória se perde na poeira dos sóis. Tão grande é Jesus diante de nós, embora por amor tenha nos presenteado com a sua convivência naqueles recuados tempos, na Palestina, que é natural que, da distância de que o olhamos, a muitos lhes pareça o próprio Deus. Talvez essa diferença seja tão difícil de estabelecer quanto a das distâncias de duas estrelas que do céu abrilhantam as nossas noites.
Nos primeiros tempos da igreja organizada, em 325 d.C., o Imperador romano Constantino convocou o Concílio de Niceia, primeiro encontro dos líderes da crescente igreja, para dirimir a controvérsia acerca da natureza de Jesus. Desse evento surgiu o credo niceno que, de maneira algo confusa, dizia que Jesus era gerado, mas não criado, consubstancial ao pai, e coeterno. Mas o voto vencido, dos chamados arianos, é que parecia uma antecipação do que nos revelariam os Espíritos da Codificação.
E assim é. Jesus é o espírito mais puro que já encarnou na Terra, o modelo da perfeição a que podemos aspirar. É o governador espiritual do nosso orbe. Foi criado simples e ignorante há tanto tempo que há bilhões de anos já atingira a condição, conforme lição de Pastorino, de “filho do homem”. Brilha sobre nós como uma estrela a nos apontar o caminho que nos conduzirá de homens conturbados à angelitude.
Cabe-nos, na condição de criaturas ainda da retaguarda, vacilantes, fazendo uso da bênção do livre-arbítrio, que nos deixa livres para escolher nossas ações, e atrelados a suas consequências, aderir ao roteiro divino contido no Evangelho. Assim poderemos reformar nossa conduta, com reflexos em todas as nossas ações e relações, abrindo caminho para a nossa evolução rumo à Luz